segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Recanto escuro

Não é preciso ter muita inteligência para ir levando no mundo de hoje. Quanto menos inteligência, mais a pessoa se dá bem... Saber demais chega a doer.

Coloquei o novo cd de Gal pra tocar. Amanheceu com muito calor nesta sexta feira pós festa do Nosso Senhor do Bonfim aqui em Salvador. Fui pra cozinha enquanto tocava a música “recanto escuro” e tirei toda minha roupa em frente a geladeira. Era pra eu estar lendo um livro do Henry Miller, era pra eu ir a academia, poderia ir cedo para o trabalho, mas preferi ficar em casa fazendo essas viadagens. Ouvir Gal e ficar pelado em frente a geladeira só pode ser coisa de “veado”.

Pensei em criar um projeto chamado “pagode sinfônico” pra apresentar o aspecto rítmico do pagode baiano, o fazendo virar uma coisa Cult (brega isso, né?). Tanta gente torcendo o nariz para esse gênero de música que é também belo de um ponto de vista da liberdade musical de onde ele vem. O pagode é muito importante para o contexto social dessa gente. A bossa nova é o mundo cor de rosa das novelas das oito...o pagode é o favela movie.

Parece que perdi o rumo das coisas e eu preciso encontrar rapidamente uma coisa para me apoiar, para chamar de vida. Ando achando tudo muito normal, um amigo e um sofá pra mim vem sendo quase a mesma coisa. Eu sou o silêncio ultimamente com meus amigos. Não ando com disposição para comprar a solidez dos sorrisos dos outros. Queria conversar mesmo era com padres, com terapeutas, com idosos, com prostitutas, com taxistas, com manicures pra saber quem tem motivos para festejar nesse nosso mundo fora do real... Eu tenho a leve impressão que estamos todos numa furada só. E que não há tempo de ser e ter tudo ao mesmo tempo. Precisamos de uma leveza de pertencer sem ter, é possível?

Não estou alimentando de sofrimento e nem ao menos estou extasiado de alegria. É um estado normal de vida. Normal que chega a ser entedioso, sem cor (e estamos no verão baiano) e sem gosto. Eu ando gostando muito de ficar no escuro do quarto, deitado e de preferência não pensando em ninguém e em nada. Parece muito uma disposição suicida, mas não chega a ser isso. Não tenho vontade de perder a vida sem extrair dela o máximo possível de experiências das mais dolorosas para o meu aprendizado. O que eu falo é de algo como o preparo de uma comida que você não vai comer, apenas para alimentar outros.

Pensei em procurar um conselho de filósofos terapeutas. Mas daí eu sei que eles irão me falar de Buda, de Sêneca e Aristóteles isso, se o meu problema for amoroso. Para manter o relacionamento com toda certeza irão me contar histórias de Kant e Sartre. Para questões do trabalho Voltaire, Rousseau e Gita. A filosofia já faz parte do meu cotidiano e sem dúvida alguma é ela que me orienta. Tento achar semelhança no que venho vivendo nesta modernidade com os caras lá do século passado. E como tenho encontrado sentimentos muito parecidos. Terminei de ler um livro de Proust, que me pareceu um livro biográfico meu (para a modernidade)

Enfim é tão existencial isso tudo que sinto que acredito que o melhor seria se eu ficasse sentado no sofá vendo um programa de reality show. Assim no dia seguinte eu teria um assunto bem simples, bem comum, bem menos complexo para conversar com as pessoas. Daí eu não precisaria preparar nenhum alimento, apenas compartilharia e comeria da comida da massa. Assim a gente continua levando...

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