segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dorme que uma hora passa




A sala estava totalmente vazia, sem móveis, apenas alguns livros espalhados pelo chão. No som tocava uma música de uma moça que cantava  baixinho. Dessas no estilo Novelle Vague onde o   baixo entra depois, e existe o vazio entre o violão e a bateria. Lá fora ia  morrendo um domingo. Morrendo daquele jeito que um domingo sempre morre. Com a tristeza que existe  somente nos fins das tardes de domingo: acabam as perspectivas, nada mais acontece,fica uma nostalgia enlaçada,aquilo que parece bonito mas está preso a um nó bem dado. Assim esse dia estava agonizando e morrendo lá fora enquanto dentro do apartamento vivia horas de solidão e paz.

Para aumentar a angustia começou a ventar. Ventava forte. Ventava aquele tipo de vento que faz muito barulho. Vento que quer ter a atenção da gente. Vento que assusta que precede o fim dos tempos. Tentei abrir a janela, pareciam dois mundos diferentes. Dentro  do apartamento era outro dia, outra hora, uma festa, uma verdadeira mágica. Lá fora uma ventania com toda a raiva da natureza  para com  a humanidade. Fechei novamente a janela, a sensação que tive foi que Deus estava comigo, Ele estava dentro da minha casa, se protegendo junto comigo. Existia uma presença maior ali dentro para explicar aquele tempo de alta paz.

Lá fora existia um não  Deus, que derrubava arvore, destelhava casas e provocava caos na cidade. O vento trouxe uma forte chuva, que passou muito rápido, mas causou ainda mais estragos. Eram dois mundos um de paz e outro de tormenta.

Acendi uma vela e apaguei todas as luzes do apartamento. Fiz uma prece aos Deuses [não só para um] para proteger os desabrigados, os que não tinham um teto e nem onde se esconder daquela tempestade. Deitei na rede, a música continuava a tocar, a casa todo escura, um contra baixo e uma voz feminina baixinha tocava na casa. Comecei a ficar inquieto, mesmo com o som de paz que vinha da voz baixinha da menina.

Assim, saí no meio daquela chuva em direção ao mar. O vento me cortava, os pingos da chuva batiam forte fazendo doer minha pele. Eu quis andar no meio da rua, no meio da chuva em direção a praia. À medida que ia andando ia escutando a voz baixinha da menina cantando música no estilo Novelle vague com alguns espaços das batidas do violão. Aquela coisa bem João num estilo cool Gilbertiano. 

Quando cheguei a praia, as ondas estavam agitadas, ondas altas quebravam na areia. A praia completamente vazia, a chuva forte me impossibilitava de avistar algo a frente. Eu pensava rápido no estrago de tudo, eu pensava rápido nas famílias, pensava nos noticiários cheios de sofrimento no  dia seguinte relatando os estragos, contabilizando os mortos, ganhando a sua audiência. Eu queria estar no mesmo barco, na mesma turbulência de todos, por isso saí correndo de casa, assim desesperado. Assim conivente com tudo me lancei no mar. Do nada veio uma onda muito forte e me arrastou me arremessando e me pegando novamente,agora já todo ensangüentado e lançando novamente  alto  mar... Cai num profundo silencio e escuridão.

Não se  ouvia mais a voz da menina cantando baixinho, não  se ouvia o som  do contra baixo, foi então que abri meus olhos e vi que era dia.  E avistei a promessa de um novo dia com o céu  claro e um azul profundo. Calmaria e paz. É só dormir que passa. E ganhar mais um dia,uma nova chance de se inventar de novo.


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