terça-feira, 6 de novembro de 2012

A grandeza do homem no mar

Ela é mulher de pescador.
Ela é mulher de verdade.
Ela é feia.
Ela é rude.
Sem grandes vaidades.
Levantava antes do dia acordar.
Não existe mulher assim na cidade.



Acordei hoje com sede de mar. Então fui bem cedinho pra beira da praia. Fiquei ali quietinho observando os rituais dos pescadores...Não acho bonito a prática da pesca, acho bonito a vida de um pescador. Aquele homem que saí , sem saber se irá voltar, pra buscar o alimento. Deixa mulher e filhos em casa e se lança ao mar. Um velho calção, a rede e esse homem fica grande pra mim quando chega a praia. É isso, todo mundo fica grande no encontro com o mar. A melhor festa da vida é a festa das águas.. Apesar das lembranças das canções praieiras de Caymmi, ao pensar em pesca e peixe, minha mente transborda um texto [ou poema] de Adélia Prado chamado "Casamento":



Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.


Um comentário:

Jana Cruz disse...

Foi este texto da Adelia que vc recitou pra mim, enquanto olhávamos uma aldeia de pescadores aí em SSA e idealizando nossos amores?