Eu ria e chorava um rio
Mas nunca uma dor foi tão bela
Mesmo quarto, mesma cama, mesmo quadro e uma extensa vida lá fora forrada por uma cortina.
Se esticou para puxar um pouco a janela. Entrou um pouco de luz no espaço quarto tempo. Planejou ouvir uma canção do Moska cuja a melodia não saía da sua mente.
Deixou pra lá, fez silêncio.Olhou pro teto e pensou...Queria pensar de outra forma.Queria mudar a rota.Pra quê?Pra quem? Pensar positivo.Pensar poesia.Pensar primeiro.Tudo agora: Presente.
Tom prosaico, o largo sorriso andou desaparecendo do seu rosto. Intimamente pra ele era uma falta de mar. Apenas isso.
Sempre tinha essa manina de não saber lidar com presentes e com pessoas que lhe dão presentes querendo algo em troca. Ele preferia não receber tais presentes, por não saber lidar com a euforia diante do regalo. Sibilava mais que falava. Seu silencio o tornava enigmático e pouco interessado em ouvir, falatórios inúteis e partidos político, entre a esquerda e a direita ficava entre. Entre entrar para o quarto ou ficar na expectativa de algo inteligente e com presença de espirito. Que de fato promova a mudança e não todos esses insultos que vão contra a dignidade e liberdade humana.
Se levantou olhou no espelho,que pra ele já havia perdido a razão. Ele sempre se via interiormente acabado, mas o espelho o retratava como um homem bonito, marcado por uma tristeza que o tornava ainda mais atraente. Cabelo sem pente, barba e bigode com fios soltos, a escova de dente. Respirava fundo,sabia que estava se tornando um ser estranho. Estranhamento virou uma canção num poema pra ele...
A mesa do café posta.
Tem tudo que ele gosta.
Sua mãe depois de mais de 30 anos voltou a se preocupar com ele:
"tanto que falo pro cê cuidar dessa alimentação, tanto peço em oração."
Mas como, se ele não tem fome?
Precisou colocar umas cartas nos Correios. De chinelo, bermuda e camiseta pegou a chave do carro. Dirigir lhe causava enorme prazer de movimento e isolamento. Sempre ia com tranquilidade, atento as regras, aguardando sua vez. Nunca tinha pressa quando estava ao volante. Sempre encontrava uma vaga boa, os sinais abertos e o caminho livre, Nas mãos sempre um livro. Pra o livrar de todo mal: o tédio.
Nesse dia um desconhecido o chamou de esnobe, assim do nada, assim sem alguma ação que provocasse aquela reação gratuita. Foi na fila dos Correios, um rapaz sentando ao seu lado esperando atendimento, volto a dizer desconhecido, pediu um pouco da sua água, que estava tomando na garrafa. Ele achou aquilo estranho mas mesmo assim passou a sua garrafa. Em seguida, o desconhecido puxou um assunto, mesmo o vendo preso a leitura de um livro . Pra cada comentário vazio do cara desconhecido, ele balançava a cabeça... Não havia ali uma pergunta objetiva, uma presença de espirito, ambiente favorável. Ele só queria depositar as cartas e voltar pra casa, pra sua cama, livros, musicas, sobrinhos. Sim dentro da rotina, brincar com os sobrinhos, era o melhor exercício pra sua alma. O rapaz pareceu não entender e pediu seu telefone. Ele anotou no papel e quando foi embora se despediu com um silencioso sorriso entregando o papel com o telefone nas mãos do desconhecido.
Cada um sabe como se distrair e atrair pessoas nas ruas. Ele não estava nem pra um nem pra outro. Sem querer esbarrar em ninguém ele entrou no carro, assustado viu um motoqueiro alinhado ao seu veiculo, Ele tirou o capacete, nessa hora ele percebeu que era o rapaz desconhecido, insistindo na cantada:
-Você é lindo.
(Silenciou...)
-Ei, to lhe dizendo: essa barba, esse bigode...poxa
Você tá exótico demais.
Charmoso.
(Enigmático olhar de indiferença )
-Obrigado. Respondeu
E foi em silêncio.
Sem nem dizer
Nada.
Ou de nada ( como costume)
(Brasil, Minas, Belo Horizonte - Critique sofistique a inutilidade dos elogios)
Ao chegar em casa chegou uma mensagem em seu celular:
"gostei de você, tem charme, bonito mas me pareceu muito esnobe, sem interesse."
Não soube o que fazer com aquilo, pensou sobre a imagem de esnobe que transferiu ao outro, ao desconhecido.Cada um de um observatório situado num espaço diferente no tempo.
Voltou pro quarto. Sem música, sem livro, sem luz e voltou a dormir.
Não me belisque, ainda que esteja sonhando...me deixe!
Sinto uma dor concreta, pessoal e compreensível.
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