segunda-feira, 15 de junho de 2009

O movimento belo do ser estático.


Hoje é segunda feira, véspera do dia do meu aniversario. Sentado em frente à porta da varanda observo a chuva fina caindo. Estou tomando café com os olhos fixos na chuva e os ouvidos sentindo cada frase da música “Drão” de Gilberto Gil. Hoje ainda cedo não agüentei esperar a água do filtro cair no meu copo. Foi ai que percebi que a paciência não estava comigo. Fiquei pensando em mim. Fiquei pensando em nós. Pensando nas gentilezas que as pessoas fazem comigo e ando não percebendo. Estou com aquela ansiedade chata, e pelo menos tentando sair dela. Você já segurou o celular a esperar que ele toque por uma razão obvia da necessidade? Pois bem, preciso que meu telefone toque. Questão de necessidade. Não sei por que estou dando tanto sentido a tudo isso. Eu não deveria dar essa atenção toda à véspera de meu aniversario, ao telefone que não toca e nesta tentativa de querer agradar todo mundo. Não mesmo. Tudo devia transcorrer em tempo e espaço navegando todos os sentidos. O tempo é rei diz Gil nesse momento. Água mole em pedra dura tanto bate que não restará nem pensamento.

Acabei de ler nesse fim de semana um livro do Pessoa. Acontece comigo agora uma súbita mão de algum fantasma oculto:


Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
trago no coração, como de um trono
desde e se afirma meu senhor e dono
sem, ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
presa por uma corda de inconsciente
a qualquer mão noturna que me guia

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
de um vulto que não vejo e que me assombra
E em nada existo como a treva fria.


Agora vou tentar ler essa semana o livro escrito por Burroughs e Kerouac: E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques. Preciso encher minha mente de outras coisas e deixa de esperar o celular tocar. Preciso ter paciência para conseguir dar valor a tudo. Eu tenho muita sede...e assim sem paciência não vai rolar. Preciso aproveitar o tempo que água cai no meu copo pra pensar certo sobre as coisas. Esperar é o certo. Não pensar seria o correto. Não penso logo não existo. Quero acabar com essa minha fuga. O fato de não saber me dá vontade de gritar. Mas eu não grito. Eu respiro, deixo que o ar faça por mim o trabalho de encontrar soluções para tudo. Sempre que opto pela opção "respiração" as coisas se encaminham de uma forma absurdamente eficiente. Sempre que opto por estar no controle de tudo os destinos e sentimentos sempre me escapam pelas mãos.
Nesse tempo de falta de paciência e de estar longe dos meus queridos amigos e da família existe um algo mais: Lembranças das noites de caos em meio as multidões, em que eu procurava em fugas alcoólicas um beijo com gosto de verdade. E na procura vã voltava triste e me fechava para a realidade triste da condição de ser humano: o de estar só mesmo acompanhado.

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Um pedido de desculpas a Luciana Santana e Gabriel pela falta de paciência.
Dedico esse texto a vocês e a também a Janaina Cruz, Carol e Jouber pelos belos textos.
Jouber, o ouvir Drão é a mais forte lembrança que tenho da sua pessoa. E sempre essa canção me remete a você. Sempre. Drão é a melodia da separação na sua condição histórica.

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