terça-feira, 9 de junho de 2009

Caio em Fernando Abreu e a chuva cai lá fora




Essa noite ventou muito e ainda cedo uma forte chuva caiu sobre Salvador. Acordei antes das 5 da manhã, pois tinha uma entrevista de emprego  no Centro Empresarial no Iguatemi. Fui preparar meu café. Coloquei uma música de Gal pra tocar- Aquele Frevo Axé. Na tentativa de  encontrar um documento caiu bem na minha frente um livro de Caio Fernando Abreu. Pensei muito nos deliciosos tempos de leitura que tive com aquele livro. Lembro que certa vez em Olinda estava feliz lendo Caio bem em frente ao Rio Capibaribe com sua Recife Antiga. Então, mesmo com todos os compromissos diários e afazeres usuais, parei para me entregar à releitura e deixar que minha mente traçasse as retas e criasse os cenários, e sem subliminares manipuladoras. Li o texto em voz alta na varanda olhando pra chuva e vendo nascer uma manhã cheia de promessa e poesia. Assim do nada. O dia fez um sentido danado.
O dia em que Júpiter encontrou Saturno
- Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas,
ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
- Quando estiver muito quente,
me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você
.- Vou te escrever carta e não mandar.
- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
- Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
- Vou ver Saturno e me lembrar de você
.- Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
- O tempo não existe.- O tempo existe, sim, e devora.
- Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher.
Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
- Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador,
pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
- E que uma palavra ou um gesto,
seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.



(Silêncio)





Caio Fernando de Abreu

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