domingo, 18 de abril de 2010

Espaços Genéricos


Quero falar da cidade e dos seus espaços. Precisamente falar do que sinto toda vez que vou ao Pelourinho.

Estive lá para resolver assuntos de rotina e parei para tentar chegar próximo do meu sentimento aquele espaço. É um gostar forte precedido de uma “não aceitação” desse desejo. Expresso uma ansiedade, algo que diria ser até mesmo espiritual. Muito comum eu dizer às pessoas que não gosto de ir lá. Mas ontem senti que isso é uma mentira. Tem algo ali que ainda me atrai muito.

No Pelourinho existe uma energia muito forte. Aquele espaço sendo explorado por atores do patrimônio (falsas baianas), violentado por flashes, bombardeados por turistas, sempre me causou desconforto. Como se buscasse ali o cheiro de mijo do passado, o sofrimento dos escravos nos olhos do povo, como se o cheiro da cachaça e putaria de leve ainda pousasse na minha realidade. Um lugar valorizado demais e as feridas ainda estão lá, mesmo que escondidas. Talvez sejam essas feridas que tento resgatar, não sei. Estou perdido em palavras. Interessante seria poder me ouvir dizer sobre e não escrever. Aqui resta uma tentativa do sentimento:

Tentei buscar o entendimento, lá não tem atrevimento mais, lá não tem mais cor, lá, agora, é puro teatro. Toda vida que existia ali foi expulsa para as periferias e as memórias da vida que havia antes foram junto. Nas fachadas o que me parece ser são fachadas cenográficas; como se atrás não houvesse nada. Sinto que o Pelourinho do passado insiste ainda em aparecer através das decomposições aparecendo na pintura.

Ando pelas ruas, ali a impressão que tenho é a de que os artesãos, os donos de restaurantes, as baianas, todos, atuam em grande peça de teatro. Tudo é um tanto folclórico.

A modernidade vem trazendo modelos de cidades. Como se algo projetado lá na Europa, pudesse ser recriado aqui. O Rio parece uma Paris frustrada. São Paulo briga entre as grandes metrópoles com seus grandes shopping, com a mesmice capitalista das grandes lojas. Falta alma.

A alma que digo é da energia de vida cultural forte, da peculiaridade histórica desses lugares e que nunca vai poder ser produzida por diretrizes municipais, que não são feitas para atrair flashes e nem ser violentada por turistas.

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