domingo, 18 de abril de 2010

Diante da dor dos outros


Um garoto de aparência esquisita começou a se fazer notar dentro do ônibus. No colo ele carregava um bebe de pouco mais de um ano de vida. Ninguém sabia de onde ele vinha e de fato ninguém estava preocupado com isso. A preocupação começou quando o ônibus parou e o trocador junto com o motorista pediu que fossem embora.

Uma forte chuva caía lá fora e dentro do ônibus um complexo de indiferença contribuiu para que o tempo ficasse ainda mais fechado. Fiz uma conta rápida de padaria: mais ou menos éramos em 28 pessoas e se cada desse 0,01 centavos pagaríamos a passagem daquele rapaz. Mas não houve ordem. A sociedade moderna assiste a distância por meios de noticiários de TV, imagens de jornais e revista horrores que acontecem no mundo inteiro. Não conseguem assimilar o que vê bem a sua frente. Conseguem se sensibilizar para ajudar vitimas do Haiti, do Chile e agora recentemente do Rio de Janeiro onde foram todos castigados pelas catástrofes climáticas. Sei que o que têm sangue vira manchete. Ali poderia ser, também, o começo...

Algo de muito estranho que quase de imediato as lembranças e o gesto pareciam provocar um efeito em mim. Pensei que aquele rapaz poderia se rebelar contra todos nós. Ficamos aproximadamente 5 minutos parados criando mais problemas do que solução. Pensei que poderia ele sacar uma arma e por fim aquela cena de expectador da dor alheia. Mas foi mais rápido e prático pensar e agir assim:

Tirei do meu paletó o dinheiro e pedi ao trocador que cobrasse a passagem dele. Todos calaram e ficaram olhando pra mim com cara de consolo. Retirei todos do inferno e a paz instalou no ônibus. Contudo, pareceu constitui-se um bem em mim, ampliando a consciência de quanto sofrimento causado pela crueldade humana existe no mundo que partilhamos com os outros. É preciso existir alguém que sinta sempre surpreso com a existência de fatos degradantes, alguém que continue a sentir decepcionado diante das provas que os seres humanos são capazes de infligir, em matéria de indiferença e crueldade a sangue frio contra o outro.

O sofrimento daquele rapaz tem um interesse muito mais intrínseco para aquele publico dentro do ônibus. O povo gosta de assistir a miséria alheia, virar as costas, fingir que não faz parte do mesmo quadro. Engodo. Estamos todos dentro da mesma panela.

Que bom que você chegou!
Bem vindo a Salvador!


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