terça-feira, 8 de junho de 2010

O espiríto da coisa


Sou alguém que fala a respeito das coisas. Escrever sobre futilidade sem assim ser é complicado. Mas vale o exercício para tornar este texto uma realidade.

Ganhei seis meses da revista Caras e confesso que podendo recusar; aceitei a oferta. Aceitei porque estou cansado de ficar pagando minhas contas (que são as mesmas todos os meses) de ficar trabalhando de segunda a domingo, de ficar lendo livros e livros e buscando um sentido ao mundo. Aceitei porque pego trânsito todos os dias para ir trabalhar e na volta me resta apenas algumas horas pra ler, comer, entrar na net e tomar banho pra dormir. Aceitei porque cansei de ser magrinho fraquinho e porta estandarte da imagem de um sobrevivente. Aceitei porque ando sem tempo pra realizar coisas. Aceitei porque estou cansado de ler nos jornais casos de violências, casos de pessoas que foram mortas por despreparo dos bandidos. Falta experiência até na bandidagem para promover assaltos... (ah néeeem). Vilma ontem me contou que mataram dois lá na favela que ela mora, sendo que um era um rapaz de 20 anos trabalhador (como eu e como você). A mãe do mesmo, como se é de esperar, está inconformada. Mataram por engano.

A realidade ta dura demais, let’s go para a futilidade:

Quero os símbolos de importância: quero morar num duplex, quero ter um Rolex, quero ir a festa da Amandinha de helicóptero, quero convidar o Carlos pra andar de Jet neste fim de semana, quero desmarcar minha aula de alemão, quero acompanhar minha irmã a Daslu, quero convidar meus amigos para tomar Diva Vodka comigo hoje a noite (hoje é terça,ok?). Quero comemorar meu aniversário numa ilha. Quero a capa da revista esse mês com Janaína Cruz ao meu lado. Quero ir a Angola só pra comemorar o noivado de Lizandra. Quero dias de massagens nos pés, passar o dia dos namorados com você em Paris, e é certo que saiba porque Paris...rs.Quero ir ao velório do cadelinha de Soninha. Quero ser presidente do movimento CANSEI e colocar Antônio Mário como meu vice. Quero convidar Jouber pra assistir o show da Marisa Monte em Londres. Quero ser amigo do Aloysio de Andrade Faria, Jorge Paulo Lemann, Antonio Ermirio de Moraes e tantos outros (se não souber quem é jogue no Google). Quero barrar a Hebe Camargo da minha festa, ela é feliz demais, tem um ranço de pobre. Quero fazer o cancelamento do meu cartão American Express Centurion, por que o perdi enquanto me jogava na Mokai.

E isso que dá ler Caras. Fico de “caras” como um veículo pode fazer a minha cabeça. O preço que pagamos por esperar mais do que nossas condições é uma angustia doida, estou muito longe de ser tudo isso que vejo e leio nesta revista. Sou underclass demais pra querer esse mundo pra mim.

Mas não fico triste... pode ser que algo que esteja esperando e que iria trazer muita alegria, não aconteça. Mas será que esse sentimento de satisfação que esse acontecimento me traria não é apenas uma ilusão? Não importa que seja um pouco falso comigo mesmo e nem posso esperar a graça divina de braços cruzados. Vou trocando de cidade, de casa, de empregos, investindo em projetos sem garantia. Estou disposto a mudar de cor, de prato predileto, até mesmo de time de futebol. Começo do zero, como se diz: tem gente que é tão pobre, mas tão pobre que só tem dinheiro. Quero minha vida nada mole de volta;contudo interessante!


"O que quer que você faça na vida,será insignificante."_Ghandi


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“Sempre fico fascinada pela abnegação com que nós, humanos, somos capazes de dedicar uma grande energia à busca do nada e à mistura de pensamentos inúteis e absurdos"_ Do livro: A Elegância do Ouriço

Um comentário:

Helena disse...

Nada fazendo tudo se transforma....