quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Espere...não terminei...


Ontem voltei pra casa sem querer pensar em nada. Ontem sentia uma forte dor no lado direito da barriga. Dores me fazem sempre refletir a vida. O rumo das coisas. Pela primeira vez fechei a cortininha do ônibus para não ver ninguém e que ninguém me visse naquele estado. Ontem, justamente ontem, nada me confortava. Não havia porto seguro pra mim, nenhum canto me acomodava nada estava justo . Estava sem lugar no ônibus e no mundo. Tudo tão vasto, o cotidiano correndo solto e me vi ali naquele canto da poltrona do ônibus pensando que futuro inesgotável nós temos. Tudo isso com uma pontada de dor no corpo. Pensei em Ana Cristina Cesar: “o dor ficar boazinha”.

O elevador do meu prédio vive parado. Ele quase não existe. Persiste. Já em casa,de banho tomado. Procurei algo na internet que pudesse solucionar minha dor. Conversando com meu amigo, Tiago, descobri que a dor que sinto poderia ser rins ou fígado. Ele consultou o livro sagrado que todas as mães têm em casa e dize-me: Maínha, falou que boldo é muito bom. Hora em que a felicidade me visitou. Esse sotaque dos baianos é um doce som aos meus ouvidos: gosto muito de ouvir/ver baianos dizendo “pequenininho” e “maínha”. Então sai pra comprar o chá de boldo.

Preparando o chá e novamente tentando fazer uma ligação dos atos x vida. O fósforo pra ligar o fogão nunca pegava. Quando ficamos pensativos demais, vem essa tal leitura simbólica que passamos a fazer de absolutamente tudo. Um fósforo que não acendia me fez lembrar do fogo do prometeu. (http://dererummundi.blogspot.com/2008/12/o-fogo-de-prometeu.html). O chá de boldo tem um delicioso gosto amargo. Seria o lado amargo da vida? Parei de ficar pensando para não lidar com questões existenciais. Porque estar vivo,verdadeiramente vivo, é horrível- dizia Clarice em G.H.

Me atirei na arrumação da casa. Tirei toda a roupa do varal. Daí pensei que a gente nunca fica louco quando se tem coisas demais pra fazer em casa. Porque eu queria mesmo era pensar na vida. Pensar na minha dor. Pensar que não posso jamais me ausentar no trabalho. Estava pensando demais. Pensando em casa, sozinho. Pensei em Clarice, pensei no Rio de Janeiro e pimba: em vc!Abri a janela do meu mundo (Windows) na tentativa de buscar descrições da sua viagem a cidade do Rio de Janeiro. Me encontrei no texto com a cidade do Rio,com Clarice e com seu tom pessoal,temas do seu cotidiano feliz e um lirismo saudoso. Foi um resgate inesperado numa noite que não ia dar em nada, pedia pra acabar...

Que acabe...

Acho melhor acabar com o texto e com esse gosto amargo de boldo.

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