sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Perfumes & Pagodes


Um sol escaldante na cidade. Uma dor de cabeça, logo cedo a caminho da sala de aula. No ônibus um forte cheiro de aço fedido com perfume barato. Apenas o odor prevalecia. Pedia licença poética: não havia licença poética. Havia apenas pagodes sendo tocados ao mesmo tempo um no meio do ônibus e outro no fundão. Antes de mais nada eu adoro pagode, mas que toque um de cada vez! A viagem parecia não ter fim...o play list dos aparelhos de celulares também.: "Relaxe na bica"! "Relaxe na bica"! e no outro: "Coloque a mãozinha no chão e bote o bumbum pro alto"!!!

Lá dentro me senti como intocável, e apesar de desejar me sentir invisível sabia muito bem que não podia passar despercebinamente por alguém normal. Não estava com cara de alguém normal. Pupilas dilatadas, e olhos semicerrados. Cara de ontem, cara de quem precisava desesperadamente de um banho e um bom sono para abrandar o coração leviano. Sim eu tenho um coração leviano. Porque por ventura foram levianos com o meu e acho que seria uma forma de proteção ser com o dos outros também. Mas mesmo sabendo que no fundo não era. Gostaria de ter o dom de ser, intovável e inatingível. E naquele exato momento acabei por me tornar.

Desci do ônibus de aço fedendo a perfume barato, fui pra minha aula matinal, depois ao trabalho e somente no fim do dia voltei pra casa. Pus a cabeça no lugar e não falei nada. Não falar. Um dom e uma necessidade tão negligenciada por mim nos ultimos tempos. Tenho sido tão verborrágico que nem mesmo consigo pensar. Tenho negligenciado a muito tempo e em muitos aspectos. Mas continuo... Finalmente cumpri meu chamado ao descanso decidindo o que fazer. Dormir. E por mais umas quatro horas. desejando secretamente não acordar. Mas isso é só uma mania que tenho de querer fugir das coisas da vida.

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