
Era um tempo nublado, ventava forte, da janela avistava os altos coqueiros balançando sob um fundo cinza melancolia. Da janela do carro também avistei uma moça com uma criança na praia. Pousei meu olhar: Ela estava na praia deserta com seu filho de aparentemente 2 para 3 anos. Aquilo tão simples, mãe e filho brincando na areia da praia num dia cinza de forte vento, para mim era algo tocante, de encher os olhos de lágrimas, de me encher de uma felicidade sem nexo. O casaco da criança balançava e então ela andava meio sem jeito como se tentasse dar os primeiros passos, esticava as mãos tentando tocar a barra do vestido que flutuava feito um balé no ar e gritava em risos. Havia apenas os barulhos do vendo, dos risos e das ondas quebrando forte na beira da praia numa bela e bucólica tarde prosaica. Barulho do mar, mãos estendidas, o balanço do vestido da moça com os seus cabelos ao vento, o riso mutuo e meu enquadramento sagrado. Sinto-me muito feliz no mundo das coisas simples, as coisas que aos meus olhos se tornam filme, poemas e fragmentos do cotidiano. Bateu uma tristeza silenciosa após a alegria do momento que passou que não mais me pertencia, que ficou na minha lembrança enquanto passava pela orla. Esse mundo dessas imagens passou e não mais me pertence.
Vejo-me tão inquieto tão urgente no decorrer do dia, mas tenho em mim a capacidade de flagrar a vida desarmada das pessoas antes do preparo e da pose que habituamos ao cotidiano. Precisamos parar e perceber as coisas que são milagres no dia da gente... Como aquele plástico que o vento leva e nos faz retornar ao belíssimo filme “Beleza Americana” num final de tarde engarrafada em qualquer metrópole. É preciso parar de correr, pois quem corre na grande maioria das vezes nem sabe para onde está indo. Desacelere seu olhar.
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