domingo, 31 de março de 2013

Ainda que eu falasse a língua...


A operadora de celular me enviou uma mensagem dizendo que você já estava disponível para atender ligações. Isso exatamente as 01h21min da manhã de domingo. Tentei por tantas vezes, durante a semana entrar em contato pra saber como estava. Tentei pela razão de ter me dado novos números que, possivelmente, conseguiria falar contigo com mais certeza. Se não me desse tal abertura, com certeza, não entraria em contato.
Precisava saber se, depois de quase duas semanas completas, estava bem. Se estava estudando, se já estava trabalhando, se tava trancafiado estudando  no quarto ou se estava pela casa conversando com sua mãe. Pensei em ligar pra tua mãe. Pra perguntá-la secretamente  se andava tudo bem contigo, se você precisava de alguma coisa. Pensei, até mesmo, que poderia estar com outro...
Não é certo querer você desse jeito. Disso eu sei. Por mais que nossos corpos juntos saibam que queremos um ao  outro, minha alma quer distância da tua. Ela sabe dessas coisas do sofrer.  De que no fundo o amor é tratado com todo cuidado. Quando a gente ama, tudo é feito com carinho, com um leve jeitinho de querer agradar, de querer estar perto, colado do lado, errando na tentativa eufórica de acertar. Dizemos mil frases clichês pra aplacar o silêncio dos corpos apaixonados. E o amor entende dessas frases clichês, das músicas românticas e das cartas de amor. Amar nos incute a isso: sermos leves no falar, no caminhar, no pensar  e introspectivos a rotina. Passamos o dia todo vendo o lado bom da vida, justamente por ter essa consciência viva que amamos alguém nesse vasto mundo. E que por essa pessoa vale à pena se esforçar pra ganhar um bom salário, vale a pena cuidar do corpo, vale a pena buscar conhecimentos nas áreas de teatro, cinema e até mergulhar no universo de Lya Luft. Por essa pessoa vale muito a pena viver, querer mergulhar em filmes, textos, cultivar poesia, querer dar a volta ao mundo, retratar o ângulo onde a sensibilidade reside nas coisas através da fotografia.
E morrer?
Pensei em me hospedar no mar essa semana. Pensei em colocar um fim nessa vida de poucas recompensas afetivas.               De querer inventariar qualidades a tua pessoa. De querer ler a bíblia e entender a palavra de Deus. Tudo sofre tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 

[1 Coríntios 13:7]

Pensei que ter você por perto me traria a segurança necessária para eu entender que são apenas dois seres que não conseguirão seguir juntos. E que dependendo da palavra mais linda dita na hora certa, minha alma iria se aquietar. Iria entender a razão que não correspondem aos fatos. Você, de fato, nunca se preocupou comigo. Dono de um egoísmo tão doce e tão cruel parece querer seguir sozinho.

"ajeito minhas asas, largas, para que caiba. para que não machuque ninguém.
e você chega, você tenta, mas minha liberdade te afasta" [sic]


De que vale ter a sensibilidade de ouvir pássaros. De sentar na beira da praia pra admirar o mar e ver  o por do sol. De extrair  a beleza na cidade, de não reclamar do trânsito, de que vale ser generoso com todos, aberto a todos, se a minha alma inquieta, louca quer apenas compartilhar essas felicidades com  uma única pessoa? Como acalmar essa alma, como mostrar a ela que não existe a menor condição de você viver ao meu lado? Essa minha luta com essa alma aflita que não me permite sair de casa, não  me deixa ver mais nada. Que não me faz preocupar com que roupa usar, com a barba que cresce  e o cabelo por fazer, que não me exige postura ao sentar e a falar com as pessoas apenas com os olhos. De não dar atenção ao moço do caixa, que religiosamente todos os dias pergunta se eu estou bem. Apenas balanço a cabeça querendo dizer que sim. Mesmo ele sabendo que não.
 Um clarão que se abriu e  me estremeceu desde o dia em que te vi.
 O meu corpo já não treme mais... Ele conhece o teu corpo. Se sente em casa. Ele se apruma aos teus beijos e abraços. Se sente confortável. A minha alma é que não consegue parar de tremer em busca de uma paz que não sei mais  onde encontrar.
Sei que você é mais belo de longe do que perto de mim.
Ainda que eu falasse a língua... [bem isso também é clichê... tsc!]


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