terça-feira, 2 de março de 2010

Cada Ser Humano como uma sociedade





“Se alguma coisa há que esta tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns ao outros. A alma humana é um abismo escuro e viscoso, um poço que não se usa na superfície do mundo. Ninguém amaria a si mesmo se deveras conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece o outro, e ainda bem que não o conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o intimo metafísico inimigo. Entendemos-nos porque nos ignoramos. Que seria de tantos cônjuges felizes se pudessem ver um na alma do outro, se pudessem compreender se como dizem os românticos, que não sabem do perigo- se bem que perigo fútil- do que dizem [...] A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma media alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.”

Fernando Pessoa.

Era madrugada quando este texto caiu em minhas mãos. Na manha seguinte, acordei atormentado. O que você nunca vai poder mensurar é o que significa estar passando por esta situação que me encontro. Trata-se de uma forma de insanidade, de cegueira diante das coisas mais simples em função de um desentendimento. Não é insano passar o dia inteiro concentrado num problema e privando de todo o resto do mundo de sentido? Não é insano não ter nenhum outro pensamento, nenhum sentimento nem vontade de se alimentar, a não ser ficar remoendo fatos para criar argumentos que possa justificar o acontecido?
A minha dor é não poder afirmar nada...
Entro em casa, tomo meu banho gelado, sempre acredito que um banho gelado resolva tudo. O carnaval passou e minha cegueira diante do cotidiano ainda persiste em ficar. Faz moradia em mim. A minha ressaca de carnaval ainda não chegou ao fim, tanto a física como a moral. Tento curá-la a base de silêncio e sucos de laranja com beterraba e couve. Ando numa onda natural pós carnaval.
Nesses dias de sol em Salvador (e muita chuva na região Sudeste) minha alma se encontra nublada. O mar anda se desentendendo comigo, ontem fiquei apenas a observar a onda que quebrava forte na praia. O mar tem sido meu lar nos últimos dias. Minas não têm um porto de mar, por isso não quero voltar.
Preciso apenas de silêncio, sinto minha calma abalada. Melhor do que o silêncio, só João, ultimamente só João Gilberto toca no meu ipod. Não há festa que me faça dançar. Estou me guardando pra quando esse tempo passar. Sei que passa, o tempo é o Deus da razão. A relação mais intima, traiçoeira e definidora da minha pessoa é a que travo comigo mesmo. Questão de tempo pra mim.
Uma frase dita ao telefone precedido de algumas expressões faciais e alguns gestos de intolerância. Tudo isso mal interpretado por mim. Mal dito por você.
Peço que tenha cuidado com a palavra (você não tem o hábito de ler, talvez não entenda o que quero expressar). Apenas elabore o seu discurso, pense antes de colocar sua idéia em circulação. Solte esse bicho que há dentro de você. Deixe que ele transmita a mensagem, já que não consegue expressar o que de fato quer. Não distraia a sua verdade. Saía da superfície, pule de cabeça e assuma teu impulso defensivo de fuga.
Agora, hóspede do meu tempo.

P.s: Leia não para contradizer nem para acreditar, mas para ponderar e considerar.


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