quarta-feira, 15 de junho de 2011

Uma cicatriz significa: "eu sobrevivi"


Falta uma hora para começar a comemorar meu aniversário. Nesse instante o que marca esse tempo é o livro que estou lendo de Chris Cleave – Pequena Abelha, os ventos fortes que chegaram a Salvador e minha família. Hoje uma amiga minha recebeu um telefonema, relatando a morte de um rapaz novo. Fiquei meio sem chão ao estar do lado dela nesse momento e não sabendo o que entregar, entreguei - lhe o meu silêncio e logo mais tarde o peguei de volta. E esse mesmo silêncio veio comigo do trabalho até agora neste exato momento em casa. Esse silêncio entrou no ônibus comigo, sentou do meu lado, veio ouvindo música no ipod comigo, desceu comigo, entrou comigo no prédio, subiu as escadas comigo, entrou no banho, comeu alguma coisa comigo e me colocou até a cama. Esse silêncio veio comigo até aqui. E me fez pensar em saudade.

Porque o que mais marca esse tempo é a saudade que me atormenta em dias tristonhos e vazios. Triste é quando chega o domingo, triste é quando preciso ligar para minha mãe atrás de uma receita de um bolinho que me resgataria o tempo da infância. Toda tarde era comum ela preparar o tal bolinho para comermos com café quente. Acho que chama bolinho de chuva...

Eu lembrei num desses aniversários quando minha vó Carmelita chegava com um desses bolos simples de padaria e todos meus irmãos vieram atrás pra cantar parabéns. Tudo tão simples e agora, justo agora cheio de significado pra mim. Existe uma infinita sofisticação na simplicidade dos gestos. Como eu queria esse bolo agora, como eu queria todos aqui. Justo agora.

Se pudesse fazer apenas um desejo, queria estar junto da minha família. Queria olhar no rosto de cada irmão meu de uma forma, agora, diferente. Queria estar ao lado de todos e mostrar a cada um deles que eu sempre, sempre mesmo, acabei adquirindo características deles, que era pra eles que eu estava sempre olhando para tentar ir atrás quando chegasse a minha vez. Poxa como é ridículo estar longe de vocês e ficar pensando quando éramos crianças e quando brigávamos por pedaços de pão, por doces roubados na geladeira ou quando um usava a roupa do outro.

Estou aqui sozinho agora no apartamento, talvez pagando de certa forma isso. Essa solidão que me fez vir até aqui relatar esse único sentimento que me abateu nesses quase 25 minutos que faltam para o meu aniversário. Queria convidar aqui Juninho, Fá, Beto e Sheila que considero também meus irmãos. Pessoas tão intensas numa fase onde a gente só tinha uns aos outros para se apoiar. Com toda certeza não tem como não lembrar todos vocês. A gente só leva da vida a vida que a gente leva, todos sempre comigo. Amo todos vocês muito!

Dona Carmela, Seu Geraldo, Pai e Júlio sempre na lembrança...

Agora já é meu aniversário! Felicidade para toda a minha família!!!

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